CRÔNICA DA SEMANA de Carlito Lima “YELLOW BUTTERFLY”

Carlito Lima é escritor alagoano, engenheiro civil, produtor cultural e boémio

YELLOW BUTTERFLY

Durante a 2ª Guerra Mundial o Nordeste Brasileiro tornou-se uma região estratégica. Os alemães tinham um plano secreto de invasão aos USA tendo o Nordeste como corredor de assalto. Em 1942/1943 seis navios brasileiros foram torpedeados por submarinos alemães nos mares nordestinos.  Os moradores, pescadores do litoral acudiram e conseguiram salvar feridos.

Nessa época os americanos instalaram um Grupo de Dirigíveis, chamado “Blimps” e pequenos aviões de caça em Maceió, com pista aérea no Tabuleiro dos Martins. Esses “Blimps” realizavam observação aérea no Atlântico Sul em busca de submarinos alemães e imediatamente passavam informações para os aviões bombardeá-los. Durante o período de dois anos cerca de 250 americanos moravam em Maceió. Geralmente frequentavam as casas de mulheres no bairro histórico Jaraguá. Os oficiais alugaram o salão térreo do Clube Fênix Alagoana, o clube da aristocracia. Nas festas contratavam a Jazz Band formada por militares do 20º BC, conjuntos musicais e show do folclore alagoano. O salão térreo tornou-se um clube privado dos americanos que penduraram uma placa com o nome de USO (United State Organization). Nos dias de festa dançante somente as moças, as mulheres, eram convidadas. Houve uma reação dos jovens nativos contra os americanos. Numa cidade conservadora, como Maceió, os pais proibiram as filhas frequentarem as festas. Os jovens logo apelidaram as moças mais independentes que frequentavam o Clube USO, de “usadas”. As festas eram pela tarde nos fins de semana, à noite os americanos transformava o clube em salão de jogos, tomavam porres homéricos e a jogatina virava a noite.

Certo dia, perto do natal, Mister Sharpless, um americano gordo que se dizia vice-cônsul dos USA, morava em uma pequena casa na praia de Pajuçara, solteiro, homossexual, tinha um negócio de venda de peças artesanais de casco de tartaruga. Bajulador das tropas americanas convidou um pastoril de um colégio para dançar no USO num sábado à tarde, prometendo às bonitas jovens quinquilharias modernas, principalmente meias de nylon. A apresentação do pastoril, eram mais de 20 jovens bonitas, entre 17 a 20 anos, dançando com suas saias rodadas, divididas nos cordões azuis e encarnados. No final entrou a jovem Babu fantasiada de borboleta amarela, com duas singelas asas cantando: -“Eu sou uma borboleta, pequenina e faceira…”. Foi um sucesso, não só pela música, como também pela beleza de Babu; morena queimada do sol constante da praia da Avenida da Paz, onde morava.

O tenente aviador da Marinha Americana, Pinkenton, 25 anos, alto, forte bonito, bigode a Clark Gable ficou encantado com Babu chamando-a de Yellow Butterfly. Houve uma recíproca atração quando o Tenente Pinkenton  segurou-a pela mão arrastando-a à uma mesa vazia. Os dois se entenderam, Babu estudava inglês e o tenente, morava há mais de um mês em Maceió pilotando blimps e aviões de caça. Os jovens conversaram, se entenderam, até o termino da festa; quando um ônibus deixou as jovens em suas casas, felizes por terem cantado e dançado o pastoril e terem ganhado tantos presentes.

Pinketon procurou o “vice-cônsul” Mr. Sharpless em sua casa na deserta praia de Pajuçara. Foi direto ao assunto queria saber quem era a jovem que dançou fantasiada de Borboleta, queria saber tudo sobre ela. O tenente estava fascinado pela Yellow Buterfly, o olhar profundo da jovem sorridente lhe tocou o coração e na mente. Do outro lado, Babu, não tirava de seu pensamento a imagem do tenente gentil, bonito e encantador. Houve um problema, os pais não consentiram o namoro. Os jovens enamorados quando podiam escapavam num jipe da USO para s bandas da praia do Gogó da Ema, por mais de seis meses conseguiram escapar das vistas dos pais e dos moradores da cidade, naquela época Maceió era uma pequena cidade provinciana. Até que um dia Babu engravidou; os pais exigiram o casamento e o Tenente Pinkenton prometeu casar. Foi quando terminou a Guerra. O Tenente teve que embarcar para os USA, retornaria uma semana antes do casamento. Deixou um monte de dólares para compra dos móveis, a noiva escolhesse a casa para alugar.  Babu feliz da vida só falava no casamento e no filho que ia nascer. O tempo foi passando, o tenente não mandava notícias, passou o dia do casamento, ela ainda na expectativa, até que o belo menino nasceu. Foi assim que bela Babu tornou-se mãe solteira. Tempos depois Babu casou-se com um comerciante apaixonado, teve mais 2 filhos, mas nunca esqueceu o primeiro amor, Tenente Pinkenton, o desaparecido.

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