SÃO JOÃO VIRTUAL – segundo Rostand

VIVA SÃO JOÃO VIRTUAL

Alberto Rostand LanverlyPresidente da Academia Alagoana de Letras 

A vida ensina que o termo tradição, representa a transmissão de costumes, comportamentos, memórias, rumores, crenças e lendas, para pessoas de uma comunidade, sendo que os elementos legados se tornam perenes, passando a fazer parte da cultura.

O modismo, se caracteriza por serem peças ou acessórios que são aceitos facilmente pelo gosto popular, não necessariamente se transformando em uma tendência permanente, pois seu surgimento é rápido e a longevidade, temporária.

Neste ano de 2020, principalmente em seu sexto mês, uma das mais importantes tradições brasileiras, quando os nordestinos se rendem às delicias do forró que a todos embala durante a celebração do São João, será frontalmente afetada devido aos efeitos da doença da moda que é o coronavírus.

Celebradas no Brasil desde o século XVII, os folguedos Juninos constituem o segundo maior evento festivo do país, ficando atrás apenas do carnaval. Já o coronavírus, chegou literalmente para causar estragos na saúde, economia e relações interpessoais, gerando danos avassaladores, destruindo tudo ao seu redor.

Tempo bom aquele em que a noite sempre era uma criança, a turma caía na dança, a poeira subia no ar, enquanto o triangulo, viola e pandeiro tocavam em abundância, incentivando o remelexo das massas. Rojões assustavam com seus estampidos enquanto a quadrilha rodava sem parar.

Na plateia muito arrasta-pé, bebida e abraços suados. Campina Grande, Caruaru ou Maceió, povo ordeiro e brincalhão lotava ruas, praças e até pavilhão escutando o som do Gonzagão o eterno Rei do Baião: “Olha pro céu meu amor, veja como ele está lindo, olha praquele balão multicor, como no céu vai sumindo… Olha pró céu meu amor…”.

A crise pandêmica modificou a rotina das pessoas, mas mesmo assim, o caipira que existe em cada um de nós, sempre forte e criativo haverá de divertir-se durante os tradicionais festejos de junho, e substituindo a tradição do abraço apertado pelo modismo do cumprimento de cotovelo, e quietinhos defronte à TV, assistiremos a “Live” da banda Mastruz com Leite, e com ela cantaremos o sucesso que diz assim: “alavantu pra tu, anarriê pra eu, tu no teu canto e eu dançando no meu. Vontade boa e a saudade cria asas, vai ter São João, mas cada qual nas suas casas.”

Se tradicionalmente, as comidas típicas quase sempre a base de milho, tais como, espiga assada ou cozida, pipoca, pamonha, canjica, entre outros que fazem sucesso e se transformam no grande atrativo para os forrozeiros, que não medem esforços para desfrutar das iguarias, nesta jornada estranha que vivenciamos, através dos aplicativos Ifood e Uber eats receberemos os alimentos que farão a alegria de cada um, que com um olho no YouTube e outro no firmamento também haverão de enxergar fogueiras e bandeirolas dependuradas nas estrelas e mesmo assim acharão tudo tão belo.

Que em 2021, a tradição sobrepuje o modismo e aí, novamente bem juntinhos em um terreiro matuto, provando gostoso quentão, cantaremos a uma só voz: “o balão vai subindo, vem caindo a garoa. “O céu é tão lindo e a noite é tão boa. São João, São João! Acende a fogueira do meu coração.” Por enquanto, viva o São João virtual.

Vídeo São João em casa

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