A CRÔNICA DA SEMANA de Jorge Luiz Soares Melo

O HOMEM É TEIMOSO, NÃO PROCURA SE CUIDAR

 

 Jorge Luiz Soares Melo é Médico e Membro Efetivo da AAL.

 

Ao longo de muitos anos, atuei como médico em um Centro de Saúde da periferia de minha cidade e observei que eram diminutos os homens que procuravam aquele local para realizar uma consulta médica ou também para participar como ouvinte de uma palestra sobre temas ligados à saúde. Resolvi então, caros leitores, relatar um pouco, sobre o assunto em questão.

O homem quando era visto por mim no Centro de Saúde atuava como:  acompanhante que trazia a mulher gestante, filhos menores ou seus pais idosos, ou muitas vezes como:  alguém que vinha solicitar o agendamento de consultas e exames para outras pessoas.

Raramente observava um homem em busca de atendimento para suas próprias necessidades de saúde.

Resolvi então convidar para uma reunião, a associação dos moradores daquela localidade, que prontamente aceitou participar, para identificarmos juntos, quais os problemas da pequena presença de homens no atendimento realizado naquela Unidade de Saúde, pois, a maioria atendida eram crianças, mulheres e idosos.

Na reunião com a comunidade perguntei a alguns homens que ali compareceram, quais as razões que os mesmos não procuravam o Centro de Saúde de sua comunidade.

Eles de uma maneira geral, falaram que o grande problema era: O tempo gasto para agendar as consultas, as filas de espera e o atendimento em horário de trabalho.

Uma grande maioria deles disseram que: o trabalho para o sustento da família estava em primeiro lugar, onde a saúde só se torna prioridade quando começa a impossibilitar os mesmos de exercerem suas atividades do dia a dia, sejam elas laborativas ou muitas vezes, sexuais.

Procurei então, na consulta médica, realizar uma anamnese detalhada, criar com o paciente um ambiente mais aconchegante e comecei a ouvir e identificar as barreiras enfrentadas pelo paciente do sexo masculino e procurei ajudar e quebrar os “tabus” com relação ao processo saúde-doença, tentando fazer com que, o homem deixasse do lado os preconceitos e passasse a se preocupar mais com sua saúde.

Sempre procurei estimular os mesmos à prevenção de uma série de doenças, que tenho convicção, proporcionará um aumento significativo na qualidade e tempo de vida, dos homens daquela localidade, que passaram a procurar em maior número a Unidade de Saúde.

Segundo pesquisas: ( Julião e Wegelt, 2011),  descrevem: “que a cultura é um fator determinante para a educação em saúde, pois  as crenças e valores interferem na  significação do que é ser masculino, uma vez que os homens foram educados para não chorar e manterem a postura de “machos”, o estereótipo do homem está baseado em sua força, masculinidade e atitudes, portanto o adoecimento demonstraria sua fragilidade”.

Ainda segundo eles: “O homem é uma série de questões culturais e educacionais, que ainda é visto pela sociedade como uma pessoa invulnerável e forte, imune a qualquer tipo de

adoecimento,  contribuindo assim para que ele descuide de sua saúde e se exponha a mais riscos que as mulheres”.

Cheguei a uma conclusão que essa diminuta presença de homens para serem atendidos no Centro de Saúde que dirigia, apesar de todo o esforço da excelente equipe que ali atendia, com reuniões mensais de aconselhamento, era associada a uma característica da identidade masculina relacionada ao processo de socialização, pois, o homem é teimoso não procura se cuidar.

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