A CRÔNICA de Alberto Rostand Lanverly
CARTA PARA MEU PAI…
Alberto Rostand Lanverly – Presidente da Academia Alagoana de Letras
Aproxima-se mais um dia dos pais. Quantas recordações das alegrias que tinha em lhe beijar nesse segundo domingo de agosto. Mas você se foi, já faz tanto tempo e parece que foi ontem. Se aqui estivesse, em 28 de julho passado, teria celebrado garbosamente, como sempre o fez, seu primeiro centenário de vida, mas isso não aconteceu.
Recentemente assistindo ao vídeo de festejo idêntico, acontecido na virada desse século, me encantei pois você parecia um menino, dançava, brincava sorrindo muito, mas os anos passaram, fazendo entender que o tempo é implacável, e qual uma verdadeira pandemia, na sua hora, vai levando, um a um, afastando-os do convívio dos que amam.
No período de sua morte, imaginava que a pior dor sentida era a gerada pela saudade. Algumas feridas na pele, latejam, mas logo desaparecem, certos incômodos que adquiro quando corro na praia, rapidamente deixam de existir, mas a tristeza da sua separação, imaginava não ter cura, desde que partira em uma jornada sem retorno.
Por muito tempo, achei que sua falta não seria superada e constantemente lastimava tal afastamento, mas confesso estou acostumado, até realizado, pois cada vez mais lhe sinto a me acompanhar.
Ao contrário do que acontecia em minha infância, quando chorava em suas constantes viagens para as cidades do interior onde exercia o cargo de Juiz de Direito, hoje a sua ausência está fecundamente assimilada, pois trazendo-o em meu coração, estaremos juntos para sempre.
Meu querido pai, sobram palavras que me são úteis quando quero falar de você. Olhar para seu exemplo, o zelo que sempre demonstrou para com toda a família, as batalhas que travou para que todos tivéssemos uma vida satisfatória, só me faz ter um grande sentimento de gratidão. Você nos colocou em primeiro lugar na sua vida, isso sempre o tornou não somente um excelente marido mas um maravilhoso pai.
Novamente, pensando no conteúdo do filme gravado artesanalmente em uma câmera portátil de minha propriedade, convenci-me inteiramente que a vida é fruto da decisão de cada momento. Talvez por isso, a ideia de plantio seja tão reveladora sobre a arte de viver.
Naquele dia, o momento era seu, o futuro estava para ser plantado, fato que você soube galhardamente realizar por mais doze anos. As escolhas que procurou, os amigos que cultivou, os valores que abraçou, os amores que amou, e entre eles eu me incluo, tudo foi determinante nos exemplos que legou para os seus familiares, nós que ficamos e nunca esquecemos o “bivô Amado”.
Hoje, meu querido velho, sou pai e avô, mas como não posso lhe oferecer um abraço, lhe peço que me ilumine, guiando meus passos, vigiando minha mente, protegendo-me em meus atos para que possa de alguma forma me assemelhar à pessoa que você sempre soube ser. Um beijo em seu coração.