A CRÔNICA DA SEMANA de Carlito Lima

ÀS OITO DA MANHÃ

Carlito Lima

George foi convidado para trabalhar como Chefe de Gabinete de amigo eleito deputado federal em 1950.  Viajou de malas e bagagens com esposa e as filhas, Karina 16 anos e Karla 14. Ele alugou um apartamento em Copacabana perto da residência do deputado. A família ficou encantada com o Rio de Janeiro, a capital do Brasil. As filhas logo ganharam amigas e amigos, gente bonita de Copacabana, o bairro de melhor qualidade de vida do país. O deputado foi reeleito mais três vezes. George e família se acostumaram na Cidade Maravilhosa. A esposa e as filhas, ao completarem 18 anos, ganharam emprego efetivo na Câmara de Deputados, com direito a frequentar faculdade e a vida social intensa, principalmente a noturna. Em plena época da bossa nova e no cinema novo, o Rio era a capital cultural do país. Poetas, artistas, escritores, atores, sonhavam morar no Rio, mostrar e viver de sua arte. As filhas de George e as do deputado frequentavam altas rodas. Certa vez, um diplomata apaixonou-se por Karina na Boate Vogue, um templo da boemia do Rio que se incendiou, uma tragédia para a vida noturna da cidade. Pouco tempo depois, Vicente, o diplomata, casou-se com Karina, foram trabalhar em Roma. Karina morou dois anos na cidade eterna, vivia viajando com as amigas, conhecendo cidades da Europa. Até que num retorno de viagem encontrou seu lindo diplomata com um pareia em sua cama. Foi um trauma. Vicente tentou convencê-la que o relacionamento era só sexo, ele era bissexual, muitos casais modernos aceitavam aquela maneira de viver. Mas a alagoana não aceitou, deu-lhe maior desprezo e retornou ao Rio onde reassumiu seu bom emprego, comprou um apartamento em Ipanema e continuou fazendo o que mais gostava: a boemia; adorava as noitadas cariocas.

Karina estava há três anos sem ver sua terra, deu-lhe saudades. Nas férias de verão tomou um avião, pousou em Maceió e hospedou-se na casa do Tio Aderbal, construída em frente à praia de Ponta Verde. Fizeram uma festa em sua chegada. Karina encantou-se com a nova urbanização da cidade e com o jovem primo Aderbalzinho, bonito aos 17 anos, corpo de atleta, jogava voleibol no CRB. A prima tomou-o como acompanhante nos passeios na Lagoa Mundaú, Bica da Pedra, Catolé, nas praias, sempre havia uma programação. Aonde Karina chegava os homens ficavam fascinados pela carioca, moderna, usando biquíni, Ela fustigava fantasias na mente masculina. Altamente paquerada, recebeu muitas cantadas. Entretanto, o melhor programa era o mergulho na praia de Ponta Verde, água morna, um azul-esverdeado. Ao chegar à praia estendia a toalha, abria a sombrinha, deitava-se queimando a pele. Aderbalzinho jogava futebol com os amigos encantados com aquela figura feminina, depois se deliciavam homenageando o Deus Onã.

Na casa do Tio Aderbal havia sempre hóspedes no mês de janeiro, os quartos eram improvisados, Dona Milu tinha maior prazer em receber os parentes na casa nova da Ponta Verde. A hora do jantar era uma festa. Karina sempre ao lado dos primos se divertindo.

Certa noite Aderbalzinho acordou-se com vontade de fazer xixi, de pijama foi ao banheiro, atravessou o primeiro quarto onde jovens dormiam em colchões, ao atravessar o segundo quarto, tomou um susto, Karina deitada de bruços, apenas de calcinha preta. Ele diminuiu os passos apreciando a maravilha, foi ao banheiro, retornou mais devagar, deu vontade de cair sobre o corpo perfeito, iluminado pela fresta da janela. Foi difícil dormir.

Pela manhã, na hora do café, Karina cochichou no ouvido de Aderbalzinho: ela tinha visto o primo à noite, quando passou para o banheiro lhe olhando, lhe tarando. Ele ficou vermelho com a história. Naquele momento Karina convidou-o para um mergulho, adorava o mar logo cedo, a água morna. Desceram os dois à praia, correram e mergulharam, brincaram de jogar água um no outro. Karina se aproximou do primo, abraçou-o, passou a mão por baixo, ele já estava excitado. Ato contínuo, ela tirou o biquíni, colocou no ombro.  Fizeram amor dentro d’água tendo apenas como testemunhas alguns peixinhos nadando entre o casal. Raras pessoas andavam pela praia àquela hora.  No dia seguinte repetiram, Aderbalzinho levou uma boia para facilitar. Até o final das férias, Karina e o priminho não perderam uma manhã de amor nas águas tranquilas da praia de Ponta Verde.

Muitos anos se passaram. Hoje Aderbalzinho, oitentão, mora num edifício construído onde foi sua casa. Ele não se lembra do nome de sua primeira namorada, nem do primeiro beijo. Entretanto, nunca esqueceu os banhos de mar alucinantes com a priminha às oito da manhã.

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