Garça Torta pede SOCORRO – Bairro de Maceió

O Professor de história Luiz Antônio Lopes Siqueira e morador da garça torta – Garça Torta pede SOCORRO

1 – O problema

Garça Torta, antiga aldeia de Pescador e reduto de artista, intelectuais e boêmios da cidade de Maceió, desde os anos 30… Esquecida pelos governos locais, habitantes e frequentadores amantes do local constroem, juntos, uma ideia de lugar que, com característica próprias e peculiares, elabora uma história cheia de culturas e tradições, envolvendo muita empatia e sensibilidade dos agentes e autores dessa obra..

Essa história natural e original da Garça Torta, ocorre até o início dos anos 2000, quando as ideias expansionistas da Cidade de Maceió chegam à região, em modelos totalmente entrópicos, em relação às ideias e práticas do lugar.

E provocam um embate entre as forças da cidade que se alto denominam Progresso e as forças das práticas, culturas e tradições que habitam o lugar.

Ou, dois modelos de desenvolvimento diferentes, o autoritário desenvolvimentismo do séc. XX que já passado pela Ponta Verde, Jatiúca, Stela Maris, Mangabeiras e Cruz das Almas, acaba com a natureza e apaga nossas marcas ancestrais ou o sustentável desenvolvimento que tentamos estabelecer, neste séc. XXI.

Essa é a disputa que, simbolicamente, traduzimos no episódio do Asfalto e as Pedras que se apresentam nesse momento e expandem para o saneamento básico bem feito e a preservação ambiental, representados nas riquezas naturais, materiais e imateriais do bairro de Garça Torta.

2 – O Embate

Nas discussões para elaboração do Plano Diretor de 2005, essas questões já estavam em pauta e no específico caso de Garça Torta resolvido, já que ela foi indicada como área de proteção sócio ambiental. No entanto, em 2007, numa reunião ocorrida às pressas na Câmara no dia 31 de dezembro do mesmo ano, votou-se a liberação do bairro para a expansão municipal, retirando a proteção especial que havia ganho e recolocando-a na situação de vulnerabilidade, em relação aos problemas que já eram percebidos, desde o início do século.

Em 2015, a Prefeitura divulgou que asfaltaria a Rua São Pedro, coração da Garça, o que provoca a reação de moradores desta e adjacentes, que montam o Movimento Abrace a Garça em defesa às ideias locais. No mais, dentro do próprio bairro, existiam pessoas que, de áreas mais vulneráveis, diziam ser a favor do asfalto e do progresso, pois inocentemente acreditavam que isso lhes trariam emprego e renda.

O Movimento pressionou a abertura dos debates do Plano Diretor, o que ocorreu e o indicativo de área preservada para o bairro de Garça Torta, voltou a valer, no entanto sua oficialização depende de sua votação na Câmara Municipal, o que não aconteceu até hoje e, assim, deixando Garça Torta sem proteção alguma.

3 – O Mecanismo

As forças entrópicas à região, são as forças econômicas e políticas da cidade de Maceió que, juntas, dividem seus interesses particulares decidindo os destinos coletivos da cidade.

Manipulando quase todas as instituições organizadas do município, desorganizam e o reorganizam esses espaços, seguindo os interesses e necessidades que, geralmente, não são os das regiões afetadas.

Essa desorganização e caos, provocando confusões nas pessoas mais simples, principalmente, abre espaço, ou cria o espaço propício, para que o aparato técnico-informacional (As mídias, as Polícias, o Ministério Público, as Associações do Bairros etc.), atuem a seu favor, construindo uma organização plenamente favoráveis às suas estruturas e interesses.

Alienando assim os lugares que perdendo os reais sentidos de suas existências, se desaparecem em pouco tempo.

4 – A defesa

Em sua história original, Garça Torta é construída por processos vivenciais, de bases solidárias, interativas e espontâneas, contendo, em si, fundamentos de um “Desenvolvimento Saudável” que não deveria ser, mas vem sendo desconstruído de forma excludente e hierarquizado, pelos ambiciosos e espetaculares projetos da especulação municipal.

Não havendo a interação ou harmonia das forças envolvidas nesse processo, há perdas para um dos lados, neste caso, os habitantes de Garça Torta, dotados de culturas seculares que embasaram todo o processo de construção das paisagens do lugar.

A Garça, na atualidade, abriga em sua população pescadores, artistas, artesões, profissionais liberais, comerciantes, ambulantes, intelectuais, além de sol, mar, peixes, tartarugas, polvo, corais, riachos, espaços que, em sua totalidade formam um conjunto dinâmico que precisa ser visto, preservado e aproveitado de maneira harmoniosa e produtiva, em qualquer projeto de transformação local.

Garça Torta merece ser quase toda protegida, com destaque à Rua São Pedro localizada junto à sua Praça principal, onde está situada a Igreja de São Pedro, o padroeiro dos pescadores, a Casa da Arte, o abrigo material de sua Cultura e o Beco, adensamento popular e tradicional dos moradores que traduzem e representam o lugar.

Se os integrantes de uma sociedade não compreendem as suas próprias existências, sua organização está comprometida, provocando, de forma devastadora, estragos sócios ambientais terríveis e, por muitas vezes, irreparáveis.

Cabe destacar que esta situação descrita, de fato, mostra a extensão de um quadro maior na requalificação do litoral norte de Maceió, pois este processo é sinalizado, principalmente, pela recente imposição de prédios de cerca de vinte andares entre as casas dos habitantes locais, seguido da abertura de uma série de novas vias de trânsito que trarão um crescimento do fluxo de veículos e uma ocupação de enormes áreas ainda reportadas como zonas rurais, e que agora sofrem um intenso processo de requalificação, com a implantação de uma série de novos empreendimentos imobiliários.

As Tradições, ainda, habitantes de Garça Torta, nos sinalizam e gritam por suas existências. É só silenciarmos os grandes ecos do dito progresso, que as ouvimos.

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