Folha Política – Nise Yamaguchi rebate ataques de Lula: “Passou do ponto”
Nise Yamaguchi rebate ataques de Lula: ‘Tenho uma trajetória’
Oncologista disse que o ex-presidente deveria baixar o tom
A oncologista Nise Yamaguchi rebateu as declarações feitas pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva na última quinta-feira, 31, durante a cerimônia de lançamento da pré-candidatura de Jerônimo Rodrigues (PT) ao governo da Bahia. No evento, o petista aprovou os ataques que o senador Otto Alencar (PSD) desferiu contra a médica durante uma sessão da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid-19, realizada um junho do ano passado.
A seguir, os principais trechos da entrevista.
— Como a senhora avalia as declarações do ex-presidente Lula?
É surpreendente uma posição dessa, proveniente de um ex-presidente. Fiquei muito constrangida, porque sou brasileira. Nasci aqui. Meu pai chegou ao país como imigrante, minha mãe é daqui. Somos orgulhosos de ser brasileiros. Então, ser tachada de “aquela médica japonesa” e ouvir que sofri um esculacho passou do ponto. Na política do “vale-tudo”, esquecem a trajetória das pessoas. Estou há mais de 40 anos trabalhando em medicina, tenho várias especialidades. Há mais de 20 anos, ajudo todos os governos. No momento em que o país passa por dificuldades econômicas e sociais, é hora de as pessoas baixarem o tom. É absurdo a existência de uma guerra fratricida.
— Como foi participar da CPI da Covid?
Fui voluntariamente, quis explicar o que estava acontecendo no Brasil. Defendi a autonomia dos médicos e dos pacientes. E, para minha surpresa, acabei “homenageada” publicamente. Acredito que houve um equívoco muito grande. Já entrei na Justiça contra o senador Otto Alencar.
— Houve algum momento na CPI que marcou negativamente para a senhora?
Sem dúvida. Em primeiro lugar, foram sete horas de inquisição — ao vivo. O Brasil assistiu a isso, tudo ficou registrado. Estava sendo bem recebida, e de repente aparece alguém e diz: “Não acreditem nela, porque está mentindo”. Nesse momento, percebi uma mudança aguda no tom, nas ameaças. A partir dali, houve ataques sequenciais. Dados e vídeos descontextualizados foram apresentados, para tentar caracterizar um suposto gabinete paralelo. Isso não existia. Fui chamada para um gabinete de crise, tudo oficializado. Uma frase dita a mim chamou a atenção: “Se a senhora negar tudo aquilo que acreditava, sua pena será menor”. Fiquei bastante indignada com esse tipo de posicionamento.
— A senhora acha que houve um comando para que os integrantes da CPI tratassem a senhora de maneira diferente?
A frase que chamou a atenção foi: “Ela está convencendo as pessoas”. Em outro momento, uma senadora disse que a CPI não poderia chamar médicos, porque eles convencem as pessoas. Não se trata disso. Trata da opção ao contraditório. Estamos em uma situação em que as pessoas de bem são condenadas por trazerem dados científicos sobre práticas médicas validadas.
— Como será a Nise Yamaguchi na política?
Adotei uma expressão que é “parlamentar sem mandato”. Isso caracteriza o que faço nos últimos 40 anos. Criei uma das primeiras entidades de pacientes com Aids no Brasil e uma das primeiras instituições de pacientes com câncer. Sinto-me uma ativista de primeira hora, desde sempre tive preocupações sociais. Decidir participar do processo político significa abrir mão da isenção, do voluntarismo. É não aceitar mais ser governado por pessoas que não estão fazendo o melhor para a comunidade.
— A senhora cogita ser vice-governadora de São Paulo, na chapa com o ex-ministro Tarcísio Gomes de Freitas?
Quando entrei no PTB, a ideia era ser pré-candidata ao Senado. No entanto, o partido passou por diversas reformulações e acabou por não conseguir garantir a minha presença na disputa pelo Senado. Então, tive a preocupação de procurar um partido que pudesse fazer isso por mim. Não queria criar disputas. Ser vice-governadora nunca foi uma questão que debatemos. Entendo que meu Estado, o Paraná, precisa de executivos realmente bons.
Fonte: Edilson Salgueiro – Revista Oeste