CRÔNICA DA SEMANA de Carlito Lima “TENENTE BARROSO”
TENENTE BARROSO
Ele era tenente, alto, forte, atleta, campeão de vôlei e basquete. Mas gostava mesmo de outro jogo mais maneiro, um carteado. Aos domingos sempre almoçava em minha casa; assim que chegava entrava na rodada domingueira de um pôquer baratinho, que meu pai jogava com alguns vizinhos. Eu, no início da adolescência, admirava aquele tenente desenvolto, risonho e franco. Porém, a maior admiração era o que ele tinha de mais bonito, mais precioso, sua gentil e alegre esposa. Quando o tenente sentava para jogar, ela dizia não entender como podiam perder uma praia tão bonita como a da Avenida da Paz. E me chamava para acompanhá-la, dar um mergulho. Aos domingos eu ficava em casa de propósito, à espera do jovem casal e desse convite.
Ela me abraçava pelo ombro e descíamos à praia, sentávamos na areia branca e fina embaixo da sombrinha. A Deusa era olhada e desejada por todos os homens de todas as idades. Ficavam contemplando o ritual; a divina tirava devagar a blusa e o short até aparecer seu biquíni sempre em tecidos floridos. Estirava a toalha na areia, pegava um livro e deixava que o Sol e os olhos pecaminosos dos homens, inclusive os meus, tomassem conta daquele corpo perfeito, pernas esguias douradas de penugens lourinhas oxigenadas, como se fossem enfeites, dava um irresistível desejo de alisá-las.
Ela pedia que a chamasse quando estivesse na hora do almoço para dar o último mergulho e irmos juntos para casa. Antes do almoço mergulhávamos juntos, ficávamos na brincadeira de dar caldo um no outro, alimentando minhas fantasias. Na hora do futebol, eu deixava aquela mulher deitada ia bater minha pelada. Ficava me gabando, fazendo inveja em ter uma amiga carioca. Os amigos e os mais velhos queriam saber tudo sobre aquele monumento.
Havia um grande advogado em Maceió, com fama de competente e mulherengo. Certo dia a bela criatura teve que recorrer ao doutor sobre uma herança. O famoso causídico, por sinal um tremendo canalha, passou a maior cantada em nossa Deusa. Ela, discreta, com classe, se esquivou, terminou a conversa, foi embora, prometendo nunca mais voltar àquele escritório. Só porque vestia roupas leves, sensuais, andava de biquíni nas praias e nos clubes, era uma moça extrovertida, típica carioca, o doutor fez um erro de avaliação e continuou a assediá-la por telefone ou quando a via. Mas a moça era honesta, aguentou quanto pôde o assédio. Até que um dia acabou a tolerância, contou toda a história para seu tenente, alto, forte e bonito.
Ele mandou a esposa marcar um encontro na própria casa dizendo que o marido viajaria. No dia, na hora, sem atrasar um minuto, o advogado bateu à porta. Logo ao entrar, ela, constrangida, mandou-o sentar-se. Mas o grande advogado estava com a cabeça virada, agarrou-a, sem as preliminares que a situação exige.
No momento em que tentava abraçá-la, apareceu o tenente na sala empunhando uma pistola 45. O susto deu um branco literalmente no doutor, ficou da cor de papel, gaguejava tentando explicar. O medo foi enorme, o doutor borrou-se na calça, e pedia suplicante: “Não me mate, não me mate.” Ajoelhou-se chorando.
O tenente disse-lhe que o mandaria às profundas do inferno, onde jamais cantaria uma mulher honesta. O famoso advogado chorava e gemia, pedia perdão. O tenente deixou prolongar por um tempo a expectativa, escarnecendo do choro do conquistador. Em certo momento o Tenente pediu à mulher para trazer-lhe um copo grande na cozinha. Pegou o copo, desabotoou a braguilha e num jato forte fez xixi dentro do copo. Levantou o copo cheio com a mão esquerda e a pistola com a direita, disse alto e bom som: “Não lhe mato, mas você vai beber o meu xixi.”
O doutor não teve dúvida: pegou o copo, colocou os lábios na borda e tomou aquele líquido amarelo, quente e espumante. Quando terminou, ele tremia de medo, de pavor. Nesse momento o tenente foi ríspido: “Vá embora, seu filho de uma cadela e nunca mais cruze comigo ou com minha mulher; na próxima vez, sem perdão, meto uma bala nos seus cornos.”
Ouvi essa história contada pelo próprio tenente a meu pai. Eu estava sentado perto dos dois, fazia que organizava a coleção de selos como quem não quer nada, prestando atenção à história. No domingo seguinte desci à praia mais cedo. Quando a musa apareceu na praia me deu um alô com as mãos perguntando: “Onde está meu cavalheiro que não me esperou?”
Aproximou-se abrindo os braços, me abraçou forte. Ao deitar-se na areia, fascinado olhei suas apetitosas pernas, lembrei-me da história. Pensei. “Se o tenente descobre meus desejos, vou terminar comendo cocô.”
Boa estória do Carlito! Muito criativo!
A equipe Folha da Barra, agradece