A CRÔNICA DA SEMANA de Alberto Rostand Lanverly

A MULHER E O BATOM

 Alberto Rostand Lanverly – Presidente da Academia Alagoana de Letras

A mulher nasceu para encantar, não precisa fazer muito para deslumbrar; basta sorrir e quando isso acontece, na maioria das vezes, se transforma na pessoa, independente de idade, mais linda do mundo, principalmente se apresentar uma maquiagem discretamente bem-feita, especificamente no que diz respeito ao batom.

Desde a antiga Mesopotâmia, integrantes do sexo feminino pulverizavam minérios em cores variadas e espalhavam nos lábios. Na Inglaterra do século XVI, durante o reinado da Rainha Elizabeth I, tê-los pintados em vermelho brilhante e o rosto branco e austero tornou-se moda. Naquela época, o batom era feito a partir de uma mistura de cera de abelha e extratos encarnados de plantas.

Até o início do século XX, pincelar a boca era uma tarefa que exigia esforço e muitas vezes, não era bem vista, chegando a existir leis, estabelecendo que um casamento deveria ser anulado se a moça usasse cosméticos antes do dia das bodas.

Grande arma de sedução feminina, o batom é, sem dúvida, o item de maquiagem mais democrático que existe. Aplica-lo não exige muita habilidade. Basta girar um cilindro de metal ou plástico e deslizar o bastão colorido sobre os lábios.

Essa facilidade, é um invento recente, fruto da imaginação do americano Maurice Levy, que criou, há 100 anos, o batom no formato atual hoje, mudando radicalmente o modo das damas enxergarem a própria beleza, tornando-as mais poderosas.

Em minha juventude, costumava frequentar o Clube Fenix Alagoano, tinha quatorze anos, e durante as férias era onde me divertia a valer.

Lembro de uma jovem frequentadora, pouco mais velha, a mais linda que por lá andava: morena, com cabelos escuros longos e sedosos, corpo flexível e encantador, quando usava vestido bem justo, com listas vermelhas e pretas na vertical, em minha mente, mais parecia uma cobra coral, sinuosamente serpenteando em areia quente.

O seu olhar não me alcançava. Mas adorava apreciá-la; em dias de tertúlias, quando dançava sempre sozinha, bela como nunca, nessas ocasiões não somente sorria, como colocava uma flor no cabelo e pintava os lábios na cor rubra, me atiçando a imaginação e deixando a certeza de que nas mãos certas, o batom é uma arma mortal.

Muitos afirmam, que os hábitos das pessoas modificaram radicalmente sob efeito da pandemia. Alguns dizem que os seres humanos serão mais amigos, compreensivos, preocupados com seus semelhantes.

Até concordo com tais afirmativas, principalmente porque as máscaras faciais, agora indispensáveis, estarão a esconder, parte do que mais admiro nas mulheres: o batom encarnado; que deixará de ser usado pois não mais poderá ser visto por terceiros, fazendo cair a venda de tais itens, influenciando inclusive a balança comercial no planeta.

Mais do que depressa estou tentando me adaptar à nova realidade, fazendo deletar a ideia de que uma mulher poderosa, não é aquela que usa batom vermelho e sim a que possui grandeza de espirito, pois a beleza acaba, mas a bondade é eterna.

 

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