CRÔNICA DA SEMANA de Carlito Lima “O GRAMADO DA PAJUÇARA” – Praia da Pajuçara anos 60

Carlito Lima – Escritor

O GRAMADO DA PAJUÇARA

– À Vânia Papini

A Organização Mundial da Saúde requer o parâmetro mínimo de 12 (doze) m² de área verde por habitante para uma cidade ser considerada de boa qualidade de vida ambiental. No Brasil existem cidades com 50 (cinquenta) m² de área verde por habitante, como Curitiba. João Pessoa é recordista nacional com seus 60 (sessenta) m² por habitante.

Maceió carece de muitas praças, parques e jardins; a nossa bela cidade não chega aos 6 (seis) m² de área verde por habitante. Se não fosse a brisa marinha, nossa cidade seria um inferno quente e abafado. Os governantes pensam serem donos da cidade, e criminosamente doaram áreas públicas, áreas verdes, para entidades e até para particulares.

Lembro rápido alguns crimes ambientais como exemplo: A praça Napoleão Goulart foi doada ao Clube Fênix, o clube mais rico do Estado; a praça 13 de Maio, local de encontro da comunidade do bairro do Poço, marco de varias gerações, foi doada ao SESC para construir uma sede; no loteamento da Avenida João Davino uma enorme área verde, onde seria uma praça, foi doada ao Clube dos Sargentos. Violências urbanas cometidas, irreparáveis. Maceió é o único lugar do mundo onde existe uma kafkaniana “Associação dos Invasores de Área Verde”, no Conjunto Benedito Bentes.

É preciso a Prefeitura junto à população aumentar essas áreas verdes, plantando árvores, cuidando das praças e jardins. E acabar com esse crime odioso: doação de áreas públicas. O povo é o Supremo dono da cidade.

Em minha juventude havia o bucólico e adorável Gramado da Pajuçara, uma área verde destinada à construção de uma praça. Um gostoso espaço gramado, arborizado, onde nós jovens dos anos 60/70 nos reuníamos conversando, consertando o mundo, paquerando. Foi ponto de encontro, início de namoros que ainda hoje persistem. Grandes amores começaram no Gramado da Pajuçara. Como era divertido passar as tardes jogando voleibol naquele tapete verde feito de grama macia, onde nas noites de Lua deitávamos olhando para o céu, cantávamos ao som de um violão, curtindo serenata. Vimos surgir as eternas músicas de nossa geração, a bossa nova.

Nas vésperas do carnaval se traçavam os rumos dos blocos, as fantasias do Baile de Máscaras e planejávamos os “assaltos dançantes” nas casas amigas. Era ponto de encontro imperdível dos que moravam fora e passavam férias. A partir do Gramado partíamos ao mar pegando jangada rumo às piscinas naturais; às vezes, fazíamos serenatas nas piscinas em noite de lua.

Outro dia tomando uma cervejinha numa barraca encontrei uma jovem daquela época. Ela lembrou o Gramado cantando uma paródia do frevo EVOCAÇÃO, composta pela Vânia Papini e amigas.

“Felipe, Pedro Rolete, Guilherme, Moacir.

Cadê Fernando Totó? Cadê Carlinhos?

Mário Jorge? Carlos Cunha? Faixa Branca?

Dos assaltos saudosos…

Na alta madrugada, do Gramado saíam,

E as farras faziam,

E era um sucesso… das férias ideais,

Na Terra dos Marechais.

Adeus, adeus, minha gente,

Que já brincamos bastante,

As férias terminavam,

As aulas começavam,

E muita gente distante…”  

Gramado da Pajuçara, marco cultural, social, encantamento dos amores da geração dourada. Ponto de encontro de uma juventude que não morreu que ainda vive em muitos corações e mentes dos que ainda têm capacidade de amar.

De repente, não sei quando, o Gramado da Pajuçara virou Posto de Combustível. É de fazer chorar! E como dói!

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

four × four =