CRÔNICA DA SEMANA de Carlito Lima “UM CABRITO NA ESTRADA DO MAJOR”
UM CABRITO NA ESTRADA DO MAJOR
A eleição para governador em 1960 foi uma das mais disputadas na história das Alagoas. O candidato, Major Luís Cavalcante perdeu para Silvestre Péricles na capital e perdeu também para Abraão Moura no interior. Porém, no cômputo geral, foi eleito governador.
Major Luís, como era carinhosamente chamado pelo povo o General Luís Cavalcante foi um governador de hábitos simples, austeros e carismáticos. Capaz de atos inusitados, beirando a demagógicos, como pedir uma bicicleta emprestada a um menino e dar uma volta pela Praça dos Martírios ou chupar rolete de cana na rua, daí seu apelido de Lula Rolete.
Quando escolheu o primeiro escalão de sua equipe de governo, causou um rebuliço no meio político. Convidou uma boa turma de jovens técnicos para seus auxiliares. Seu secretariado foi apelidado de Jardim da Infância do Major Luís. Realizou um governo próspero, estruturou a administração estadual, governo sério.
Para nós jovens, a grande obra do Major foi a construção da estrada do litoral norte. Incentivado pelo Secretário de Obras, Engenheiro Vinicius Maia Nobre, a bela estrada foi construída rasgando os coqueirais à beira-mar do litoral norte do Estado e margeando as belíssimas praias de Garça Torta, Guaxuma, Riacho Doce, Pratagy, Ipioca, entre outras. Nos arrecifes da praia de Pratagy foi colocada a majestosa escultura de uma sereia, e a partir daí tornou-se conhecida como Praia da Sereia.
A boa programação da época era dar um passeio pela estrada nova, apreciando as praias, tomar um banho de mar e no retorno comer uma macarronada com cerveja e cachaça no Restaurante do Presta. Na praia de Riacho Doce um gordo italiano, Luigi Presta, montou um restaurante rústico à beira da estrada. Cerveja mais gelada não havia. Ótimo, o tira-gosto do italiano, a macarronada uma delícia, além de uma vista maravilhosa na varanda do restaurante. Era o programa novidade e imperdível da moçada.
Ainda hoje é um bom programa passear naquela estrada, cheia de coqueirais e um marzão bonito com lindas praias.
O escritor romancista José Lins do Rego, quando morou nas Alagoas, escreveu um de seus melhores romances, “Riacho Doce”. A história de uma loura sueca, casada com um engenheiro, que se apaixonou por um pescador. O roteiro do livro se passa na Praia de Riacho Doce.
Certo sábado, passamos a tarde no Restaurante do Presta, tomando cerveja, bons tira-gostos e uma cachacinha inconfundível, a Azuladinha. Já era boca da noite quando retornamos para casa, hora de dar um descanso para prolongar a noitada.
A Rural engolia a estrada maravilhosamente no caminho da volta, quando, de repente, Leopoldo Fragoso deu um baita freio. Pensei numa batida. Ele parou e imediatamente deu ré. E com aquele seu jeito peculiar, debochado, irreverente, apontou com o dedo indicador.
– Olha ali, meu irmão!
Era um cabrito amarrado num coqueiro à beira da estrada. Em ato contínuo dois amigos saltaram rapidamente e de repente senti uma pancada, era o cabrito jogado em cima de meu colo. Disparamos rumo à cidade.
No domingo, os amigos foram almoçar o cabrito assado em minha casa, com a conivência e cumplicidade da Dona Zeca que se divertia com as presepadas dos filhos e amigos. Com muita cerveja comemos o cabrito na enorme varanda de minha casa, junto ao bucólico quintal. Que delícia o cabrito da estrada do Major!
A Estrada AL-101–Norte foi um marco na implantação do turismo em Alagoas. Há mais de 60 anos foi construído e há muitos anos requer sua duplicação, várias vezes iniciada e nunca acabada como muitas obras nesse Brasil.