CRÔNICA DA SEMANA de Carlito Lima “VÂNIA”

Carlito Lima é escritor alagoano, engenheiro civil, produtor cultural e boêmio.

Quem é essa mulher que me acorda às seis horas da manhã e me beija com a boca de hortelã? Diz que é para me cuidar e me leva para nadar. Quem é essa mulher que todo dia faz tudo sempre igual? Depois do café da manhã sai com suas pastas embaixo do braço direto ao escritório e divide com o genro e a filha o trabalho de clientes em busca de seus direitos? Quem é essa professora que aos 40 anos resolveu enfrentar um vestibular de Direito, formou-se e montou um escritório de advocacia? Quem é essa advogada que passou quase dois anos sem folga, sem sábado e domingo, estudou e passou no concurso de Promotor de Justiça? Quem é essa promotora que deixava sua casa, seu marido e filhos durante a semana para assegurar a Justiça no interior do Estado? Quem é essa mulher que poderia estar desfrutando de uma aposentadoria merecida, porém reabriu o escritório e trabalha todos os dias? Quem é essa mulher atarefada que arranja tempo para dedicar-se aos filhos crescidos, a levar os netos às aulas de inglês, de tênis, de natação? Quem é essa mulher síndica do prédio onde mora, que administra com dedicação como fosse sua casa? Quem é essa mulher que trabalha com amor e alegria e possui uma felicidade intrínseca e encantadora? Quem é essa mulher que percebeu pequenos coqueiros morrendo na praia da Jatiúca, comprou três pés de coqueiros, ela mesma reimplantou e os coqueiros cresceram viçosos sob sua vigilância? Quem é essa mulher que quando enxerga um lixo acumulado no meio da rua telefona à Prefeitura para que venham limpar sua cidade? Quem é essa mulher que quando percebe o esgotamento sanitário vazando com a água em dejetos aciona a Casal para que possa consertar o bueiro fétido? Quem é essa mulher que cuidou do pai moribundo com amor e carinho, trouxe-o para sua casa, fez o que pôde e o que não pôde até o final de seus dias? Quem é essa mulher que leva comida a um cão abandonado no quintal de uma casa e nos dias de sábado dá banho e conforto ao pobre animal? Quem é essa mulher forte que não se deixa pisar? Quem é essa mulher que gosta de bons livros, de bons filmes, teatro, música, show e da cultura popular? Quem é essa sertaneja de Major Isidoro que ama o linguajar matuto de seu povo, das danças, dos coloridos folguedos e folclores? Quem é essa mulher animada que faz o passo atrás de um bloco de frevo nos dias de carnaval? Quem é essa mulher que gosta de viajar perambulando pelo mundo, Cartagena, Praga, Berlim, Nova York, Paraty, Lisboa, ou a amada Penedo? Quem é essa mulher brasileira, cidadã da pátria amada, idolatrada, salve, salve? Quem é essa mulher que nunca deixou de ser professora, ensina aos netos, dá palestras nas Igrejas e nas Festas Literárias do Brasil afora? Quem é essa mulher que move montanhas defendendo seus direitos, como uma loba defende seus filhotes? Quem é essa mulher que paga a faculdade das filhas da secretária? Quem é essa alegre mulher que ama as colegas de colégio e infância, conserva o carinho de suas amigas em encontros e no zap, aproveitando a fase madura da vida?

Quem é essa mulher que desde menina gostou dos livros, dos estudos, que teve uma juventude feliz em sua Maceió e até em New Jersey? Quem é essa menina que um dia encontrei em flor de seus 15 anos num acampamento de Bandeirantes, e eu, tenente, cantei pra ela em premonição: “Ôh Galeguinha você é tão bonitinha… engraçadinha… vou me casar com você”? Poucos anos depois entramos na Catedral Metropolitana trocando alianças. Essa mulher hoje completa 73 anos e o tempo não desfez sua beleza, continua tão bonita quanto a adolescente galeguinha bandeirante que encontrei um dia, acampada na praia do Pontal.

Sou um ser privilegiado, a única pessoa no mundo a conhecer profundamente a gentileza, a bondade, a perseverança, a força dessa mulher divina, que toda noite me jura eterno amor, não me deixa dizer não, e me beija com a boca de paixão. Essa é minha mulher, minha amada, amante, timoneira do barco de nossas vidas; mas, nem tudo foi um mar de rosas. Vânia aprendeu a remar.

Obs. – Até quando minhas cinzas estiverem espalhadas e absorvidas no Mar de Avenida da Paz, repetirei, com permissão dos leitores, essa crônica no aniversário de Vânia 22/agosto.   

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

twenty − 9 =