Minha namorada Ana Lanverly

MINHA NAMORADA JÁ FAZ TANTO TEMPO

Alberto Rostand Lanverly – Presidente da Academia Alagoana de Letras

Sempre cultivei a máxima que ensina ser milionário não aquele que mais tem, porém o que menos precisa, e assim vou vivendo a vida, esforçando para me bastar da melhor forma possível.

Muito cedo, aprendi que a contagem dos anos na era cristã começou a prevalecer a partir do nascimento do filho de Deus, trazido à terra através do ventre da Virgem Maria, dividindo a história da humanidade em antes e depois de Cristo (a.C. / d.C.). Com o viver aprendi que todos os mortais também possuem o seu antes e depois.

Neste mesmo período, a vida me ensinou que em nossa permanência na terra haveríamos de conviver com dois tipos de pessoas: ancora e balão. Os primeiros sempre negativos, puxando para baixo, os outros confiantes, elevando o espirito dos seus semelhantes. Rapidinho cheguei a conclusão de que o otimista acha tudo bom menos o homem pessimista, enquanto o derrotista considera tudo difícil e ruim, menos ele mesmo.

Então, até os dezessete anos, vivi a minha vida estudando e praticando esportes. Período em que mantive inúmeros namorinhos com pessoas que apesar de encantadoras, não nasceram para ser a minha outra metade. Adorava paquerar, até que cansei! E convivi com tal sentimento ao perceber que dispor de dezenas de pessoas ao mesmo tempo, era o mesmo que possuir nenhuma, todavia ter somente uma ao seu lado, desde que importante, representava centenas em um só instante.

E tudo começou no Colégio Sacramento, que à época, exclusivamente em seu último ano escolar do ensino médio, aceitava alunos do sexo masculino. Erámos somente oito rapazes, tendo que conviver com milhares de lindas garotas de nossa Maceió. Recordo, naquela época, já sonhava em escolher alguém que me completasse.

Parece que foi ontem, as imagens pululam em minha mente. Estava sentado em um banco de cimento à espera do início da próxima aula, quando ela passou por mim, sorriso acanhado, vestindo a farda escolar, visivelmente alguns anos mais jovem que eu. Mesmo sem perceber, o meu coração já lhe pertencia.

Imaginei em abordá-la, mas faltou-me ímpeto, por achar seria quase um ato de pedofilia, e além do mais, por medo das bondosas freiras sacramentinas Altina e São Paulo, dirigentes do terceiro ano científico, sempre ferozes quando necessário.

Dia seguinte, criei coragem e bem discretamente, na primeira oportunidade lhe entreguei um retrato colorido, tamanho três por quatro, que houvera sido revelado em Los Angeles durante o período em que lá estudei, carinhosamente oferecido em seu verso. Ela sorriu, fiquei feliz, me senti milionário. Era tudo o que sonhava receber em troca.

Definitivamente no instante em que coloquei aquela pequena lembrança nas mãos da escolhida, carimbei a minha existência com as siglas a.A. e d.A (antes de Ana e depois de Ana). E nesta pandemia juntos, obedecendo da melhor forma possível o isolamento social imposto pela necessidade, nada tenho a reclamar, pois quando existe amor no ambiente, todo o local se transforma em carinho e afeição. Criatura confiante, positiva, esperançosa, dedicada e atenciosa, faz com que sinta que o meu melhor lugar é aquele em que se encontra Ana Lanverly, verdadeira pessoa balão, minha namorada já faz tanto tempo.

Alberto Rostand Lanverly – colaborador da Folha da Barra

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