A VERDADE DE CADA ÉPOCA
Os seres racionais, de certo modo, vivem atrelados às “verdades” de sua época. Já houve períodos, na história, em que quem possuísse erupções no corpo, era considerado “bruxo”, e, portanto, teria de ser queimado na fogueira. Professores deveriam permanecer castos até certa idade, fato romanceado por William Sheakspeare, em sua peça “Adalberto e Heloisa”. Maria Madalena se notabilizou como um exemplo clássico da jovem que, por vender o corpo, deveria ser “apedrejada” por seus concidadãos. Em determinadas civilizações, mentir era algo tão grave, que, aquele que forjasse “uma falsa situação”, perderia uma das mãos. Noutras roubar era motivo mais do que justo para acionar a guilhotina como castigo a quem delinqüiu. Foi-se o “dia” em que, tirar a vida de alguém, era algo tão grave, que o castigo imposto ao assassino deveria ser exemplar. E o povo aplaudia.
Hoje, a realidade mudou. Se, por um lado, as ciências evoluíram, viabilizando a globalização que conecta o planeta, “em tempo real”, de outro, a sociedade, atônita até certo ponto, cada vez mais egoísta, ensimesmada em seus medos, presencia acontecimentos absurdos no Brasil moderno, sem a mobilidade de outrora, na esperança de que “aquele” problema permaneça restrito “à casa do vizinho”.
São pais que “abusam” de filhos, Índios que “cortam” engenheiros à base do facão, seqüestros, assaltos, atos injustos praticados sempre em prejuízo de algo ou alguém, como que inspirados na expectativa amigável da névoa de impunidade, que entristece a tudo e a todos.
A rapidez dos acontecimentos faz com que, uma ocorrência de hoje, seja considerada “menos importante” em relação àquela que, com certeza, haverá de “explodir” amanhã, modificando o foco das discussões, “diminuídos as tensões” sobre o pecador de agora. A comunidade, embevecida, solta rojões de felicidade, quando uma autoridade faz cumprir a lei, punindo os marginais, comuns ou sofisticados, esquecendo ser, aquela, a sua função.
O mesmo povo que chora com o avanço da dengue, com a favelização das grotas, com os engarrafamentos sem fim, com o incremento de jovens pedintes nas esquinas, é o que, aplaude “um chefe do executivo”, que, não fazendo mais do que sua obrigação, consegue, em sua gestão, abrir avenidas, construir escolas, realizar concursos públicos, enfim, respeitar seus governados. É como se a sonho voltasse a se concretizar, após longos períodos de desmandos desconexos.
Apesar dos pesares, à medida que os tempos passam, e os critérios sofrem guinadas, torna-se cada vez mais imperioso que o homem civilizado traga, consigo a certeza de que decência e seriedade, devem nortear seus atos. Caso contrário, a verdade, tão alardeada, na maioria das vezes, em “causa própria”, embasada em conceitos extremamente dinâmicos, não resistirá aos efeitos de um “vento forte”.
Fundamental é a esperança de que, deixando de encontrar “guarida” na própria lei, os que delinqüem sejam, definitivamente, apeados de suas trajetórias de desmandos, e tal qual Atila, Caim, Judas, Nero ou Hitler, passem à história como apologistas do mal, na justa medida de que a verdade e a ética, trilhem uma mesma direção, cujo sentido seja a busca do “bem comum”.